quarta-feira, 22 de outubro de 2008

2. "Fui circuncidado ao oitavo dia"

Paulo, nas cartas directamente provenientes dele (chamadas protopaulinas), raramente expõe a sua conversão. De um modo explícito, só fala dela em 1 Cor 9,1; 15,8-10; 2 Cor 4,6; GI, 15-16 e F13, 4-11. São referências demasiado parcas e breves para um acontecimento tão determinante. Será que ele não tinha consciência disso? Ou, talvez por modéstia, evitasse falar dele? Pelo contrário: o facto de não escrever mais vezes e mais pormenorizadamente sobre a sua conversão e vocação, é sinal de que era sobejamente conhecida. É mesmo provável que fosse parte integrante do seu anúncio de Cristo. Pelo menos em Act 22,15, é isso que lhe é transmitido através de Ananias: serás testemunha diante de todos os homens acerca do que viste e ouviste. De resto, são quase incontáveis as referências indirectas. Quando o faz de um modo explícito, é praticamente sempre em situações em que se vê recusado, na sua condição de Apóstolo ou no Evangelho que anuncia.
É o caso de F13, 2-11. Terão aparecido na comunidade de Filipos missionários cristãos que, ao contrário de Paulo, defendiam ser pelo menos conveniente para os cristãos vindos do paganismo receber a circuncisão, o sinal externo da adesão de fé à aliança de Deus com o seu Povo, desde o início da sua história em Abraão. Paulo reage, logo no princípio da passagem, de um modo muito duro e quase ofensivo. Sinal de que estava em causa algo de intocável para os cristãos ... e para ele. É por isso que ele fala da sua própria conversão: para mostrar, com o seu próprio exemplo, o que realmente é necessário e suficiente para nos tornarmos cristãos.
A esse propósito fornece também informações sobre a sua condição de judeu, que muito nos ajudam a compreender a sua pessoa, mensagem e actividade, mesmo depois de se ter convertido a Cristo.

FI 3, 2-11
2Cuidado com esses cães, cuidado com esses maus trabalhadores, cuidado com os da mutilação! 3Porque nós é que somos pela circuncisão: nós, os que prestamos culto pelo Espírito de Deus, nos gloriamos em Cristo Jesus e não confiamos na carne - 4ainda que eu tenha razões para, também eu, pôr a confiança precisamente na carne. Se qualquer outro julga poder pôr a confiança na carne, eu posso muito mais: 5.fui circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de BenjamiTn, um hebreu descendente de hebreus; 6no que toca à Lei, fui fariseu; no que toca ao zelo, perseguidor da Igreja; no que toca à justiça - a que se procura na Lei - irrepreensível.
7Mas, tudo quanto para mim era ganho, isso mesmo considerei perda por causa de Cristo. 8Sim, considero que tudo isso foi mesmo uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor: por causa dele, tudo perdi e considero esterco, a fim de ganhar a Cristo 9e nele ser achado, não com a minha própria justiça, a que vem da Lei, mas com a que vem pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e que se apoia na fé. 10Assim posso conhecê-lo, a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com, os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, 11para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos.


Tem havido quem veja nestas palavras de Paulo um corte radical com o Judaísmo em que nasceu e cresceu. Uma interpretação que terá mesmo alimentado o anti-semitismo que tanto mal tem causado ao longo da história. Para nos apercebermos de que a interpretação é errada, bastaria ler os elogios que Paulo, não muito longe do fim da sua vida, tece ao seu povo em Rm 9, 1-5.
Mas mantenhamo-nos em F13, 2-11 e vejamos, para já, o que ele nos diz sobre a sua vida como judeu (vv. 4-6). Uma vida religiosamente exemplar, a todos os títulos. E são sete, ao todo.
Os primeiros quatro, deve-os à família (v. 5). Assim, teve pais que o mandaram circuncidar ao oitavo dia, a data exacta estabelecida em Lv 13, 12. Sendo da raça de Israel, tem a honra de ser membro do povo ancestralmente constituído pela eleição divina, que o nome Israel evoca. Pertence à tribo de Benjamim, que se manteve unida à de Judá, depois da separação das doze tribos no séc, X a.c., e em cujo território estava situado o templo de Jerusalém. A ela, além disso, pertencera também o primeiro rei, que até tinha o mesmo nome, Saúl. Ser hebreu descendente de hebreus, significava não ter na sua genealogia qualquer antepassado não judeu, o que só aos sacerdotes era exigido.
A estes títulos Paulo junta mais três, obtidos por opção própria (v. 6). Tornou-se fariseu, a associação de leigos, com raízes no séc. II a.C., que velava pelo cumprimento da Lei, adaptando-a, para isso, às diversas e sucessivas circunstâncias da vida. A imagem negativa que os Evangelhos dão dos fariseus deve-se muito às circunstâncias históricas em que foram escritos: depois do ano 70, agravou-se o conflito entre eles e os cristãos, Na realidade, porém, havia fariseus de uma piedade profunda e que, por isso, eram muito respeitados. Paulo era um deles: no que toca à justiça - a que vem, da Lei - irrepreensível. E foi essa inquebrantável fidelidade à Lei que o levou a perseguidor da Igreja .., e que acabou por conduzi-lo a Cristo, que, por sua vez, o levou a considerar como esterco tudo o que antes era título de glória. Em que sentido?
Não que ele, como cristão, tenha enterrado todo o passado judaico. Pelo contrário: foi como judeu que despertou para a fé no Deus único, o Deus de Jesus Cristo, e aprendeu a conhecer as Escrituras em que Ele se revela, imprescindíveis na sua futura tarefa apostólica. Nas suas cartas cita-as habitualmente na versão grega dos LXX, usada nas sinagogas da diáspora, um sinal de que as começou a conhecer já em Tarso. Em Jerusalém, na escola de Gamaliel I (Act 22, 3), ter-se-á familiarizado com os vários métodos rabínicos de interpretação bíblica que irá usar, designadamente em várias passagens das suas cartas. Como fariseu, e ao contrário dos saduceus, já acreditava na ressurreição dos mortos (Act 23, 6-8), o que iria ser plenamente confirmado pela aparição de Cristo ressuscitado.
E foi exactamente este (re)conhecimento de Cristo que se tornou tão determinante na sua vida, que passou a rejeitar radicalmente tudo o que o ofuscasse. Era o caso dos missionários judaizantes que apelavam para a circuncisão para se ser cristão. Na prática, significava que a fé em Cristo era insuficiente para a salvação (GI 2, 21). E foi o seu próprio caso: o zelo de fariseu levava-o à rejeição de Cristo, manifestada na perseguição da Igreja. Como, sem o Deus de Jesus Cristo, se fica reduzido à debilidade e caducidade da própria carne, por isso e só nesse sentido, é que Paulo considera o seu passado como esterco. Tão importante para ele era Cristo... que também era judeu...



SUGESTÕES
- Para rezar: Sl1 06, de acção de graças pela misericórdia de Deus para com o seu Povo, em várias fases da sua história.
-Para ler: Rm 4, 1-25, sobre Abraão como modelo da fé, e, se possível, Gn 12-23, sobre o lugar de Abraão na história do Povo de Deus.


in “Um ano a caminhar com São Paulo", de D. Anacleto de Oliveira. Gráfica de Coimbra.

domingo, 19 de outubro de 2008

Na minha fraqueza

"Na minha fraqueza, tornas-me forte
Na minha fraqueza, tornas-me forte...
Só no Teu amor me tornas forte
Só na Tua vida me tornas forte
Na minha fraqueza, fazes-Te força em mim
(...)
Só no Teu amor me tornas forte
Só na Tua vida me tornas forte
Na minha fraqueza, fazes-Te força em mim
Fazes-Te força em mim
fazes-Te força em mim..."
(...) letra e música:Brotes de Olivo
Quantas vezes nos sentimos fracos,pequenos de espirito,sem rumo...mas como a musica nos canta só o amor de Deus nos faz forte,capaz de tudo,levantado tudo o que nos vem pela frente...querendo ser maior e melhor aos olhos de Deus...criar em nós uma força de voltar a acreditar no possivel e no impossivel...
"São Paulo optou pela insensatez e pela loucura de não contar com as suas próprias forças. Decidiu confiar num Deus que se faz presença e força, precisamente no meio da fraqueza, do pecado, do abandono."
E nós?Como enfrentamos as nossas fraquezas?
Como reagimos ao que parece não estar ao nosso alcance...

sábado, 18 de outubro de 2008

Reunião 1


Quantas vezes estamos como Paulo? Perseguimos tudo e todos, mesmo aqueles que nos querem bem, fechamos os olhos e o coração. O problema é arrepender e reconhecer que não é este o caminho que Deus espera de nós, que Deus quer para nós. Recebemos todos os dias chamamentos que nos abrir-mos à palavra e ao Amor de Deus e recusamos, fechamos as portas e os olhos. Andamos cegos de Amor...
Deus fala connosco de muitas formas, mas se não estivermos dispostos escutá-Lo, serão em vão as palavras proclamadas e escritas. Depende de nós. Muitos são os chamados, mas poucos os eleitos...

Uma coisa é certa: Com Deus nada acontece por acaso...

Que São Paulo, seja também um exemplo para nós.